Border collies tem centenas de anos de criação seletiva que causaram impacto nesta raça. Altas taxas de portadores de certos distúrbios genéticos, bem como taxas mais baixas de outros distúrbios, requerem testes de DNA para prevenir a incidência da doença. Existem testes de DNA disponíveis para Border Collie como Teste MERLE, CEA, NCL e TNS. Exceto para distúrbios, os loci da cor da pelagem (locus A, locus B, locus D, locus E, locus M e locus S) também podem ser testados, o que permite a previsão da cor futura da pelagem.Cães de pelagem merle são caracterizados pela diluição de uma cor base com manchas pigmentadas aleatórias das quais ambas podem variar em pigmentação e olhos azuis com focinho despigmentado podendo estes serem parcialmente despigmentados ou não. O gene canino PMEL (SILV) é associado a transcrição de pigmento da pelagem através dos melanócitos induzido produção de melanina nas cores de coloração do espectro marrom e preto (eumelanina) ou de espectro amarelo e vermelho (feomelanina). Quando o gene PMEL se encontra em 17, originando o PMEL17, ocorre a mutação denominada pigmentação merle. Em cães normais de pelagem merle, o locus de gene merle (M) assume alelo de heterozigose dominante (Mm) que caracteriza pigmentação normal (m) e hipopigmentação (M) de eumelanina. Para cães merle dominantes (MM) a hipopigmentação completa resulta em surdez, cegueira e predisposição a neoplasias.
Após diversas mutações, descobriu-se que o locus merle (M) possui um tipo de retrotransposon (denominado SINE) identificado como ‘DNA móvel’ que o permite se autocopiar e ocupar novos locais de seu locus, podendo aumentar sua área de transcrição com mais de 100 novos pares de bases, tal característica é responsável pela origem de diferentes tipos e variações da pelagem a depender do tamanho do SINE de M. Uma das variações são os merle crípticos e harlequin: cães com SINE pequenos não apresentam fenótipo merle apesar de possuírem genótipo, caracterizando merle crípticos. Já cães harlequin possuem os mais longos SINE de
locus M, caracterizando maior presença de merle e, portanto, maior área de hipopigmentação. Além disso, devido à característica merle de atuação somente em eumelanina, cães de pelo vermelho ou amarelo não apresentam fenótipo merle pois este não é capaz de atuar em pelagem de feomelanina, apesar de ainda constituir gene do animal.
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Figura 1 - Padrão de pelagem Border collie marle
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Fonte: Doggenetics - introduction to the merle gene
Figura 2 - Variação da pigmentação das manchas
Fonte: Doggenetics - introduction to the merle gene
Figura 3 - Variação da pigmentação da pelagem base
Fonte: Doggenetics - introduction to the merle gene
Figura 4 - A imagem abaixo demonstra como o tamanho da ocupação do gene M realiza
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Fonte: Biomedcentral - the genetics of merle coat patterns in dogs
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O objetivo principal é elaborar as diretrizes básicas de um Programa de Melhoramento Genético para a raça Border Collie relacionado à coloração Merle,
2.2 Objetivo Específico
Explicar os genes que atuam na expressão da característica, as doenças congênitas derivadas da pelagem e a integração do pedigree baseado nos métodos de seleção com uso de marcadores de DNA (exames).
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3 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
Para evitar o nascimento de um cão duplo merle/síndrome do duplo merle, deve ser levado em conta no cruzamento o tipo de pelagem dos pais:
O cruzamento de dois cães de pelagem merle saudáveis terá como resultado 50% dos filhotes com pelagem merle e saudáveis (Mm), 25% com pelagem lisa (mm) e também 25% da ninhada com a síndrome do duplo merle (MM) com problemas de saúde.
O cruzamento de cão merle com um cão de pelagem lisa, originará 50% dos filhotes merle (Mm), e os outros 50% de pelagem lisa (mm). Todos os filhotes deste cruzamento serão saudáveis.
Sendo assim, um critério de seleção é o não cruzamento de dois cães Merles, e sim um merle e outro de pelagem lisa onde teremos 50% da ninhada merle e 50% de pelagem lisa, todos saudáveis para estas anomalias.
Outro critério a ser levado em conta é o excesso de branco em um cão de qualquer cor, por ser um sinal de advertência potencial para problemas auditivos. Se não houver pigmento no ouvido interno, o cão será surdo; orelhas brancas são os sinais mais comuns da falta de pigmento no ouvido interno. De qualquer forma, brancos fora das áreas padronizadas, desqualificam a conformação do cão.
Mais um fator a ser considerado na seleção é a existência do merle “críptico” (“fantasma” ou “oculto”), quando um cão que geneticamente é merle, mas que não apresenta aparência de merle. A proporção de merle é tão reduzida que se torna imperceptível, oculto por marcas brancas. Um cão que apresenta merle muito reduzido, não obstante visível, como uma orelha azul, não é um merle críptico, mas sim, um merle mínimo, sendo verdadeiros merles crípticos raros. Como esses animais têm uma combinação genética que oculta a manifestação da cor marmorizada, mas o gene está lá, a única forma de descobri-los é através de exames de DNA, o teste genético para o gene Merle auxilia a evitar cruzamentos entre animais portadores.
Apesar de todos os cuidados com os critérios de seleção, ainda existe a possibilidade de uma mutação nova, que ocorre quando o pai e mãe não possuem o merle, mas no momento da produção do espermatozóide ou do óvulo, um gameta é formado com uma mutação nova. Se este gameta é utilizado na fecundação, o filhote terá todas as suas células com mutação. Ou seja, era uma mutação que, por não existir na geração anterior, não pode ser chamada de herdada.
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4 FERRAMENTAS DE SELEÇÃO
Como visto, o Merle é um padrão de pelagem de característica ou efeito “marmorizado”, sendo esse o gene autossômico “M” de dominância incompleta que ocasiona esse tipo de pelagem e pode gerar diversos problemas na saúde animal, como na raça Border collie.
Dentro desse contexto, para melhor eficiência e custo/benefício, visando a cinofilia para atingir a maior variedade de clientes e o bem estar animal, é necessário fazer uso de ferramentas genéticas que auxiliam no processo de criação de raças com pelagem merle sem que haja perda na produção ou futuros problemas médicos para os tutores financiarem. Dessa forma, para ter um controle em criadouros, evitar o cruzamento de merle/merle que gere um homozigoto dominante (MM) ou double marle, e ter o melhor direcionamento de uso dessas ferramentas, primeiro, deve ser separado os cães reprodutores do criadouro em dois grandes grupos: cães com o genótipo merle e cães sem o genótipo merle, para que os critérios de avaliação sejam mais otimizados.
Para isso, os fatores observados são de características de herança simples, já que estes possuem fenótipos bem característicos, como a presença de heterocromia (um olho de cada cor entre azul e marrom, ou mais de uma cor no mesmo olho), ambos os olhos castanhos ou ambos os olhos azuis e pelagem marmorizada (podem variar em blue merle e red merle na raça Border collie). Sendo separados, as ferramentas são melhores direcionadas a cada grupo e subgrupo a fim de obter resultados precisos geneticamente de antes e depois do cruzamento.
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Figura 5 - Possibilidades de cruzamentos
Fonte: Genética canina – a escolha de um cão
4.1 Seleção Artificial
O uso dessa ferramenta resulta na separação dos cães reprodutores visualmente, já que o gene “M” apresenta fenótipos específicos que possam distinguir os merle (single marle e double merle) de não-merle (normais). Os critérios usados nessa ferramenta são heterocromia, ambos os olhos azuis ou marrons e áreas de coloração distintas, que pode incluir pele, focinho e coxins: como áreas normais, áreas brancas (despigmentada), áreas coloridas de maneira sólida ou lisa (pretas, marrom ou cinza) e áreas de coloração diluída ou diluídas e misturadas (similar a mármore).
Com essa separação, o grupo marle pode ser ainda subdividido em mais dois grupos macroscopicamente: simples marle (Mm) ou duplo marle (MM). Essa separação se dá na maior presença de fenótipos do locus M, como, por exemplo, cães homozigotos (MM) tem a tendência ocular de possuírem ambos os olhos azuis e ausência de pigmentação nas orelhas e grande parte do rosto, e terem coxins e focinhos rosados. Enquanto os heterozigóticos (Mm) possuem maiores tendências a terem olhos castanhos ou heterocromáticos e áreas de pigmentação sólida ou lisa e
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diluída e misturadas, como observado em um estudo feito pela ACVIM (American College of Veterinary Internal Medicine), já que as áreas de pigmentação geralmente não se associam a problemas de ouvidos ou oftalmológicos, sendo essa mais uma característica de Merle heterozigoto (Mm) do que aqueles cães de duplo marle (MM).
Já em cães não-marle que não possuem pedigree bem definido ou que o criadouro esteja em dúvida sobre o cruzamento de um marle com um cão que não possui histórico genético ou histórico genético duvidoso, podem optar em fazer um exame de teste genético chamado MARLE, visto que existem genes epistáticos que são capazes de inibir o gene merle (marle oculto), ou seja cães de pelagem normal, culminando, portanto, em cruzamento de marle/marle.
Assim, a cada divisão, a porcentagem de um possível cruzamento que resulte em genótipo marle homozigoto diminui, mas esse critério não deve ser feito de maneira única e excludente, ele deve ser sempre associado a outras ferramentas genéticas que obtenha resultados precisos nas variações de merle (homozigotos e heterozigotos), não-merle e marle oculto.
4.2 Teste Genético simples MARLE
A finalidade desse exame é comprovar se existe o gene “M” em um cão ou não, assim podendo separar grupos não-merle de merle, mas esse exame não inclui a distinção de merle homozigoto e heterozigoto. Ou seja, é mais válido para detectar se não existe a possibilidade de merle oculto em um cão sem pedigree ou de pedigree duvidoso devido aos genes epistáticos, como ocorrem em cães vermelhos ou vermelhos-claro recessivos que apensar de não desenvolver problemas de saúde, contém o gene, mas isso não é averiguado ou registrado corretamente.
Dessa maneira, esse exame é um tipo de exame genético sorológico coletado em EDTA refrigerado e de baixo custo que assegura o não cruzamento de dois portadores (heterozigotos Mm) que gera uma probabilidade de 25% de duplo Merle (MM). Assim, é recomendável que um cão Merle seja colocado na reprodução apenas com um não Merle, esse teste genético para o gene Merle auxilia a evitar cruzamentos entre animais portadores. Caso seja necessária a distinção, existem outros exames como o exame de DNA e marcador molecular.
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4.3 Exame de DNA Merle
É um exame desenvolvido recentemente que permite averiguar as demais variantes genéticas que determinam diferentes tipos de pelagem merle que podem ser aparentes ou não, além do gene dominante “M” que determina a coloração merle e o gene recessivo “m” que determina a pelagem sólida, foi comprovado cientificamente que para ser merle o padrão gênico não necessariamente precisa ter apenas os alelos dominantes ou o alelo dominante com o par recessivo, basta possuir apenas o alelo dominante para expressar a genotipagem. Assim, esse exame permite identificar a combinação com o segundo gene do par que acompanha o dominante.
Isso foi explorado e desenvolvido porque alguns criadouros foram surpreendidos com o nascimento de filhote merle (Mm) a partir de um casal não merle de pelagem aparentemente sólida, isso ocorre devido o merle críptico, merle fantasma ou merle oculto, que se apresentam em genitores que contêm o gene epistático que oculta a expressão fenotípica do merle. Portanto e a única maneira segura de ter certeza se um animal aparentemente não merle possui algum ‘gene’ para merle é através desse exame de DNA
Este exame detectou sete diferentes tipos genéticos no gene M, além dos dois (“M” e “m”), já conhecidos. Estes são denominados m, Mc, Mc+, Ma, Ma+, M e Mh. Os ‘genes’ m, Mc e Mc+ determinam pelagens de coloração sólida (não merle), M e Mh determinam pelagens merle com diferentes quantidades de branco, e os ‘genes’ Ma e Ma+ determinam pelagens similares a merle (colorações diluídas e não muito definidas, parecidas com o merle). Como cada animal possui sempre dois alelos (paterno e materno), são possíveis no teste de DNA 28 diferentes resultados, e é o resultado da combinação de ambos que irá determinar a cor do animal. Além disto, foi descoberto que cães podem ser mosaicos para estes alelos, podendo apresentar diferentes combinações em diferentes células. Desta forma, o teste de DNA poderá mostrar mais de ‘genes’ diferentes.
4.4 Teste BAER
Também existem ferramentas que podem ser utilizadas após o nascimento como forma de verificar se a característica da surdez foi herdada pelo cão, pois mesmo não sendo homozigoto (MM) geneticamente a raça ainda possui uma taxa de 5% de herdar alguma deficiência.
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O teste consiste em verificar a audição de um cão. Ele analisa a reação cerebral a ruídos, é realizado com 3 pequenos eletrodos que serão colocados na frente da orelha, centro da testa e topo da cabeça, além disso, um fone de ouvido com inserção de espuma é colocado na orelha, testando assim cada orelha separadamente, levando em média de 10 a 15 minutos para ser realizado. Isso permitirá reconhecer não somente se há um problema auditivo, mas também em que grau e em que área ele se encontra.
A melhor idade para realizar o exame é em torno de 6 semanas de vida, que é após os canais auditivos estarem completamente aberto e o animal está em desenvolvimento e responde melhor a socializações, porém, o teste BAER pode ser realizado em qualquer etapa da vida do animal.
Os criadores podem usar os resultados deste teste para selecionar para reprodução os cães não afetados e assim reduzir o risco de criar cães que sofram de problemas auditivos. Com resultados satisfatórios no exame o criador pode registrar um pré-histórico do animal e encarecer a sua venda.
4.5 Exame CERF
O propósito do exame CERF é detectar doenças oculares genéticas que podem causar cegueira, devendo ser realizado uma vez ao ano. A realização periódica do exame garante a verificação do bom funcionamento ocular.
Se o seu cão foi aprovado no exame CERF, o que significa que está livre de doenças oculares genéticas, o criador ou tutor receberá um número de certificado oficial do Eye Certification Registry.
Com isso, o criador pode ter um certificado de que o cão não apresenta nenhuma doença ocular genética, podendo ter um comprovante para apresentar a futuros compradores ou para fazer novos cruzamentos.
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5 DESCARTE PARA PROGENITORES E PROGÊNIES
Border collies tem centenas de anos de criação seletiva que causaram impacto nesta raça. Altas taxas de portadores de certos distúrbios genéticos, bem como taxas mais baixas de outros distúrbios, requerem testes de DNA para prevenir a incidência da doença. Existem testes de DNA disponíveis para Border Collie como Teste MERLE, CEA, NCL e TNS. Exceto para distúrbios, os loci da cor da pelagem (locus A, locus B, locus D, locus E, locus M e locus S) também podem ser testados, o que permite a previsão da cor futura da pelagem.
Para evitar estas condições relacionadas à pelagem merle, cães homozigotos devem ser retirados de reprodução, sendo esterilizados, e cruzamentos entre heterozigotos para Merle não devem ser realizados. Como resultado do cruzamento entre dois animais de pelagem merle, há a possibilidade da geração de filhotes portadores da síndrome do duplo merle, cuja condição é associada a uma série de patologias concomitantes como surdez, cegueira, esterilidade entre outras, que podem ser incompatíveis com a vida.
Kennels não devem aceitar registros para cães de cor merle sem evidências documentadas da cor na linhagem familiar, de forma a evitar o aparecimento de cães homozigotos.
Outro caso como da Collie Eye Anomaly – CEA, por se tratar de uma doença hereditária autossômica recessiva, é fundamental que estes animais sejam excluídos da linha de reprodução. Lembrando, assim, que devemos considerar também outras doenças genéticas para descarte, como a Luxação primária da lente, displasia coxofemoral, neoplasias, cardiopatias, síndrome do neutrófilos presos, entre muitas outras, que também podem ser detectadas por outros exames genéticos. Ainda pode se levar em conta para descarte características como diâmetro escrotal e exame andrológico para padreadores.
Concluímos que os critérios de seleção e o descarte de animais dessa raça exigem análise de diversas características genéticas, e a coloração merle trouxe mais uma preocupação e rigor quando pensamos em melhoramento genético.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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