Cães de Crista Dorsal
Antigo Cão Africano e história
Existem cães com Crista Dorsal na Africa (rhodesian ridgeback) e em outros lugares do planeta: na ilha de Phu Quoc (Golfo de Sião – atual Vietname), no Cambodia, no sul da Tailândia (onde são conhecidos como Mha Kon Klab), em Timor (onde são conhecidos como Riscas), na Bahia dos Tigres no Sul de Angola, etc.
Nos 3 primeiros casos, as opiniões dividem-se quanto à proveniência desses cães. Alguns opinam de que foram comerciantes Árabes que levaram esses cães. Outros opinam que foram os Holandeses que trabalhavam para a Companhia das Índias (cujos navios iam para o Cabo e Malaca). Outros acreditam que foram os Portugueses porque suas naus, antes de atravessarem o Océano Índico, faziam a última aguada em Moçâmedes (atual Namibia), terra dos Khois. Não pode ser esquecido que muitos antes dos Holandeses já os Portugueses comandavam o Golfo e Reino de Sião e Malaca. Devemos ter em conta ainda que os Portugueses tiveram um tratamento preferencial e que inclusive, deixaram-los estabelecer-se em Ayuntya, antiga capital de Sião. Por isso, não será de estranhar a existência desses cães exatamente onde os Portugueses, antes de todos os outros, fizeram a sua comercialização, sendo que a ilha de Phu Quoc (Vietnam), pertencia ao Reino de Sião, um lugar que com certeza era visitado pelas naus Portuguesas que utilizavam cães (muito provavelmente dos Khois dada sua resistência física) para defender as provisões dos ratos.
No que respeita ao cão da Baia dos Tigres da Angola, a situação é totalmente clara.
No principio do século XX ocorreu um surto de raiva na zona de Moçâmedes. Por isso, o governador provincial decretou que todos os cães fossem imediatamente exterminados. No entanto, algumas pessoas revoltadas com tal decreto embarcaram duranta a noite algumas dezenas de cães e rumaram ao Sul. Essas pessoas desembarcaram numa zona inôspita chamada Baia dos Tigres (outrora uma península mas transformada pela natureza em ilha desde 1940). O governador apercebendo-se da situação, manteve o decreto por 5 anos e esta nova situação inviabilizou a recuperação dos cães. Na Baía dos Tigres imperou a Lei da Selva, com imaginárias cenas de autêntico terror e canibalismo entre os cães, dada a falta de alimentos. Só os mais fortes e capazes sobreviveram. Entre eles estavam alguns cães Khois e alguns com eles cruzados (como acontecera também no Cabo quando os Portugueses cruzaram os seus cães com os dos Khois). Por via do fator genéticamente dominante, hoje exitem matilhas de cães selvagens que na sua maioria ostentam na sua pelagem uma ponta de lança no dorso (com a ponta voltada para a cauda). Estes cães alimentam-se de peixe, focas e albatrozes. Eles são excepcionais nadadores, tendo-se adaptado às condições mais duras e adversas de Angola (e talvez do planeta). Estes cães são de uma ferocidade a auto-defesa incríveis, inclusive para se dessendentarem. Em virtude da água potável ser inexistente nessa região, eles bebem as pequenas partículas de água doce que existem no topo das ondas do mar quando arrebentam na beira das praias.
Alguns cinologistas sugerem que o Cão Khoi veio, muitos séculos atrás, da ilha Phu Quoc (Golfo de Sião, Tailandia). Entretanto, a evidencia disponível sugere o contrario. Mil anos atrás, e bem no século XIX, os traficantes de escravos Árabes transportavam seus cargos da África a Asia. Depois, Portugueses e Holandeses velejavam entre África e Ásia. Por isso, é bem provável que essas pessoas levavam com eles esses cães cristados. A ilha de Phu Quoc pode ter servido como ponto de reabastecimento e os cães podem ter sido trocados pelos comerciantes e assim deixados na ilha.
Outra possibilidade é que alguns naus afundaram na costa da ilha e os cães sobreviveram na ilha, resultando no Cão Cristado da Tailândia (o único outro cão de raça reconhecida que tem crista dorsal). Nesse caso, esse cão pode representar o Cão Khoi original.
As 3 Raças da África do Sul
Em seu artigo (ver Bibliografia abaixo), a historiadora, Dra. Sandra Swart, da Universidade de Stellenbosch em África do Sul, discute as 3 raças mais marcantes da Sociedade da África do Sul e da região do Sul da África: (1) os RRs, (2) os Boerboels, e (3) os Africanis. Dada a relevância de seus comentários a nossa Filosofia de Criação de nossos RRs, daremos alguns segmentos desse artigo (original em Inglês). A tradução dada é facilitada para o leigo. Isto é, termos complicados tem sido evitados ou substituídos por outros mais comúns. Aqueles que querem revisar o trabalho completo podem faze-lho visitando a página de Internet dada abaixo na Bibliografia.
O termo Raça é difícil de definir. Uma Raça pode ser interpretada como animais que, através de seleção e criação, tem se tornado parecidos uns com outros e repassam seus caraterísticas uniformemente a seus descendentes. Uma Raça pode definir-se como uma população em equilibrio e diferenciada de outras Raças por conta de sua composição genética. Isto quer dizer que uma Raça é uma população que conforma a seus ancestrais. Assim, um animal de Pura Sangue pertence a uma Raça idenficável que obedece a caraterísticas prescritas: origem, apariência, e um padrão com um mínimo de caraterísticas. Como Lush discutiu (J.L. Lush, The Genetics of Populations, Mimeo, 1948), o termo Raça é elusive e subjetivo. Segundo ele:
Uma Raça é um grupo de animais domésticos, referidos assim por um grupo de criadores que tem um entendimento comúm... Ninguém tem guarantia de oferecer uma definição científica e em dizer que os criadores estão errados quando eles decidem deviar-se do padrão.”
Então, o momento no qual um conjunto de animais é transformado em Raça é puramente commercial/administrativa e não baseada em genética.
Os Zulus rurais reconhecem 3 tipos de cães. Os Ndebeles rurais da região Hwange em Zimbabué reconhecem uma mistura de Raças. É interessante que não existia termo para animais parecidos ao tal de Africanis já que eles eram desconsiderados como simplesmente um cão tipo viralata.
Segue mais adiante a Dra Swart.
Três Raças em Busca de Um Autor
Existem 3 raças de cães no Sul da África: RR, Boerboels e Africanis. A diferência das 2 primeiras Raças, que foram desenvolvidas pelos colonos brancos Europeios, os Africanis (popular nas favelas dos negros) eram considerados viralatas.
Recentemente, ouve uma re-investigação do assunto. Um argumento foi feito de que o Africanis não é um descendente dos cães viralatas dos colonos brancos mas de que ele descende do Lobo Árabe (Canis lupus arabs), de onde vem os cães domésticos do Oriente Medio. Esses cães chegaram ao Sul da África em 1000–1500 AC com comeciantes Árabes e com pastores Bantú e Khoi no início da Era do Ferro.
Em 1497, Vasco De Gama observou que os Sans tinham cães.
Em 1595, Cornelis de Houtman observou que os Khoisans tinham cães.
Entre 1700 e 1800, pessoas que viajavam ao interior comentavam sobre os cães dos diferentes grupos indígenas que eles encontravam.
Em 1811, Burchell descreveu cães dos Sans como uma espécie pequena, completamente branca, com orelhas erectas e sendo uma Raça peculiar desses grupos.
Em 1861, Casalis notou que os Sothos afirmaram que eles tinham cães desde tempo imemorial.
Soga (1905) e Bryant (1967) deram ethnografias dos Xhosas e Zulus (respectively) que oferecem a melhor descrição dos cães indigenas e suas funções sociais. Ambos expressaram sua preocupação com a extinção desses cães.
Mais na frente…
Idéias sobre o Cão Africanis tem muito a ver com a ideologia da reconquista dos valores indígenas e da reconstrução do conhecimento indígena. Na terminologia política atual Sul Africana e Pan-Africana, é uma tentativa de Renascimento para resgatar e restaurar as costumes e conhecimentos antigos esquecidos por causa da colonização pelos Europeios. Esso tem sido promovido pelo Presidente da África do Sul: Thabo Mbeki. Os Cães Africanis estão sendo usados para esse Renascimento porque representa A História do Povo, Sua Herança Cultural. Gallant os chama “Nosso Patrimônio Cultural e Biológico”. Eles estão sendo comercializados como símbolos da importância dos indígenas e simultâneamente promovendo-os e utilizando-os como ferramentas para a auto-estima psico-social – um elemento fundamental do Renascimento Africano.
A propaganda dos criadores dos Africanis é como segue.
“O Africanis é o Cão Africano Real, formado na África para África... Ele é parte da herança cultural e biológica da África... Sua herança data de 7000 anos atrás. O Africanis descende dos cães desenhados nos murais Egipcios. O registro mais antigo de cão doméstico na África é do delta do Nilo e data de 4700 AC. Hoje, o Africanis é visto no subcontinente do Sul da África. O Africanis é conhecido por vários nomes, en diferentes linguas. Por isso é que usamos o nome universal de canis (cão) de África – Africanis.”
Mas é o Africanis um Viralata?
Definitivamente não! O Africanis é o verdadeiro cão da África. O tipo tem sido precisamente definido, apesar de algumas variações em apariência. O Africanis é o resultado de Seleção Natural e da Adaptação Física e Mental a condições ambientais. Eles não tem sido Selecionados ou Criados pelo Homen. É o Cão para África. Em conformidade com a Filosofia Tradicional do Sul da África, o requisito mais importante para um cão é que ele deve ser ‘experto’. Por séculos, os cães mais adaptados e mais sabidos sobreviveram para oferecer uma das poucas raças de cães naturais que restam no mundo.
Contrastando com esse discurso patriotico, a Dra. Swart continua...
Os Cães Afrinais são imaginados e comercializados como criaturas de sangue e terra, um cão muito ligado a seu terreno, parte de seu paisagem aborígene e original, e parte de uma forma de vida tradicional Africana.
No entanto, a raça é comercializada numa forma moderna capitalista na Internet (http://www.sa-breeders.co.za/org/africanis). Ainda mais, a rehabilitação do ‘Cão Kaffir’ (viralata) parece ser, principalmente, um exercício dos brancos, sem apoio da maioria negra. Os colecionadores estão mais interessados nas raças primitivas (vistas como a essência canina) que nas refinadas raças Europeias e Britânicas. As raças primitivas são discutidas como generalistas (que comem qualquer coisa) úteis, independentes, e relativamente livres dos problemas genéticos causados pelos métodos de criação de raças.
Na segunda metade do século XIX, os criadores Britânicos estavam escrevendo padrões de raças e realizando exposições. Quando uma nova raça era proposta, os amantes dessa raça escreviam um padrão baseado na raça que eles possuiam. A medida que a costume espalhou, amadores prominentes ou criadores recolhiam grupos de cães e os caraterizavam num padrão de raça e decretavam o descobrimento de uma raça antiga (o método que usou Francis Richard Barnes para os rhodesian ridgeback). Orgulho nacional ou regional frequentemente ditava as menores diferencias que identificavam um raça como pertencente a um país ou a outro.
Assim como os Africanis são usados para o nacionalismo Africano, os Boerboels são usados como símbolos pelos Afrikaans e, óbviamente, na África do Sul são considerados pelos negros como símbolos do Apartheid, do racismo dos brancos contra os negros.
Os rhodesian ridgeback são considerados como o ponto medio, como a ponte entre as duas raças, combinando o Europeu com o Africano. Ou seja, os RRs são brancos com um pouquinho de negro.
Um cão é, por tanto, um maço de pelos, dentes, caraterísticas hereditárias, símbolo social e atributos culturais... Em essência, um cão é história social que pode latir.
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